quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Os conflitos entre ciência e fé bíblica

 Os conflitos entre ciência e fé bíblica têm sido um tema de intenso debate ao longo da história, levantando questões que abrangem desde a origem do universo até a natureza da moralidade. Embora ciência e fé possam coexistir em harmonia para muitos, há áreas onde seus fundamentos e interpretações divergem. Este capítulo abordará algumas das principais áreas de conflito, considerando suas implicações e a busca por um entendimento equilibrado entre os dois.

1. A Origem do Universo e da Vida

Um dos principais conflitos entre ciência e fé bíblica reside na questão da origem do universo e da vida. A cosmologia moderna, respaldada pela teoria do Big Bang, sugere que o universo começou a partir de uma grande explosão há aproximadamente 13,8 bilhões de anos. Em contraste, a narrativa bíblica da criação, conforme apresentada em Gênesis, descreve um ato criativo direto de Deus em um período de seis dias. Essa discrepância entre as cronologias e os métodos de origem gerou debates acalorados sobre a literalidade da Escritura e a interpretação das evidências científicas.

A teoria da evolução, proposta por Charles Darwin no século XIX, introduziu uma nova camada de conflito. A evolução sugere que as espécies se desenvolvem ao longo do tempo por meio de processos naturais, enquanto muitos interpretam a Bíblia como afirmando que Deus criou as espécies de forma independente e em sua forma final. A posição criacionista, que defende uma leitura literal de Gênesis, se opõe à evolução, criando um campo de batalha entre aqueles que veem a ciência como uma explicação válida da origem da vida e aqueles que acreditam que isso contradiz as Escrituras.

2. A Interpretação da História da Terra

A geologia moderna, com suas descobertas sobre a idade da Terra, propõe que nosso planeta tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos, uma conclusão baseada em métodos como datação radiométrica. Isso entra em conflito com algumas interpretações literais da Bíblia, que, ao considerar genealogias e narrativas, pode sugerir uma cronologia mais curta. Essa diferença de tempos gera uma tensão significativa, especialmente para aqueles que sustentam uma visão criacionista da Terra.

Adicionalmente, a evidência de extinções em massa e mudanças climáticas ao longo da história da Terra desafia narrativas bíblicas que não preveem esses eventos em uma escala tão ampla. Esses desafios levantam questões sobre a confiabilidade da Escritura em relação à história natural.

3. Moralidade e Ética

Outro campo de conflito entre ciência e fé bíblica é a questão da moralidade. A ciência, por meio da psicologia e da sociologia, tenta explicar o comportamento humano, sugerindo que a moralidade pode ser entendida como um produto da evolução social e cultural. Por outro lado, a fé bíblica apresenta uma moralidade absoluta, baseada no caráter imutável de Deus e nas Escrituras. Essa visão sustenta que certos comportamentos são moralmente corretos ou incorretos independentemente do contexto cultural ou histórico.

Essa divergência pode levar a debates sobre questões éticas contemporâneas, como aborto, euthanasia e direitos humanos. A ciência pode oferecer dados sobre as consequências das decisões éticas, mas muitas vezes carece de uma base moral clara, que é o domínio da fé. Assim, a interação entre ciência e fé na esfera da ética é frequentemente complexa e desafiadora.

4. Milagres e o Naturalismo Científico

A ciência opera com o pressuposto de que os fenômenos naturais podem ser explicados por leis naturais e processos observáveis. Isso contrasta com a fé bíblica, que afirma a possibilidade de milagres — eventos que transcendem as leis naturais e são atribuídos à ação direta de Deus. O ceticismo científico muitas vezes vê os relatos de milagres na Bíblia como impossíveis ou não verificáveis, o que cria um espaço de conflito entre a aceitação da Bíblia como a Palavra de Deus e a visão científica do mundo.

5. A Interpretação da Escritura

Os métodos de interpretação bíblica variam amplamente entre as tradições cristãs. Algumas comunidades religiosas enfatizam uma interpretação literal da Bíblia, enquanto outras adotam uma abordagem mais metafórica ou contextual. Esse desvio de métodos interpretativos pode levar a conflitos sobre questões científicas, como a idade da Terra, a evolução e a historicidade de relatos bíblicos. As diferentes abordagens à Escritura muitas vezes resultam em posições contraditórias em relação às conclusões científicas, complicando ainda mais o diálogo entre ciência e fé.

Conclusão

Os conflitos entre ciência e fé bíblica revelam a complexidade e a profundidade das interações entre a busca humana por conhecimento e a experiência de fé. Embora existam áreas significativas de tensão, também há oportunidades para diálogo e síntese. Muitos teólogos e cientistas contemporâneos buscam caminhos de reconciliação, propondo que a ciência e a fé podem coexistir de maneira complementar. Esse esforço envolve um entendimento mais profundo da natureza de ambos os domínios e um reconhecimento de que, apesar de suas diferenças, tanto a ciência quanto a fé buscam a verdade sobre a realidade do mundo e da experiência humana.

Definição do Evangelho

        O termo "Evangelho" provém do grego euangelion, que se traduz como "boas novas" ou "boa notícia". No âmbito da fé cristã, o Evangelho representa a mensagem fundamental que proclama a salvação oferecida por meio de Jesus Cristo à humanidade. Essa mensagem é intrinsecamente ligada à vida, morte e ressurreição de Jesus, que é considerado o Filho de Deus e o Salvador da humanidade. Assim, o Evangelho comunica que, mediante a fé em Cristo, as pessoas podem restaurar seu relacionamento com Deus, obter perdão de seus pecados e garantir a promessa da vida eterna.

Os quatro Evangelhos canônicos—Mateus, Marcos, Lucas e João—apresentam narrativas distintas sobre a vida e o ministério de Jesus, cada um com uma ênfase própria, mas todos convergindo para uma verdade essencial: Jesus é o Messias prometido, que veio ao mundo para salvar o que estava perdido. Além disso, as epístolas apostólicas do Novo Testamento expandem essa mensagem, explorando suas implicações teológicas e éticas para a vida dos crentes.

Importância do Evangelho na Fé Cristã

A relevância do Evangelho na tradição cristã é inegável, uma vez que ele se estabelece como a fundação sobre a qual toda a crença e prática cristã se sustentam. Os seguintes aspectos sublinham a importância do Evangelho:

  1. Mensagem de Salvação: O Evangelho constitui a mensagem que revela a universalidade da necessidade de salvação. A Escritura Sagrada ensina que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Romanos 3:23). Por meio do Evangelho, os cristãos afirmam que Jesus, ao sacrificar-se na cruz, expiou os pecados da humanidade, oferecendo uma nova vida e reconciliação com o Criador.

  2. Centralidade em Cristo: O Evangelho destaca a centralidade de Cristo na vida do crente. A fé não se resume a um conjunto de regras ou comportamentos, mas se fundamenta em um relacionamento pessoal com Jesus. Essa relação é o que transforma vidas e orienta ações e decisões. O Evangelho convida cada indivíduo a conhecer a Cristo, aceitar Sua graça e seguir Seus ensinamentos.

  3. Esperança e Vida Nova: A ressurreição de Jesus, um dos pilares do Evangelho, proporciona esperança de vida eterna. Os cristãos creem que, assim como Cristo ressuscitou, também experimentarão a ressurreição. Essa esperança não é relegada apenas ao futuro, mas também se manifesta no presente, permitindo que os crentes vivam uma vida repleta de propósito e alegria, cientes da presença constante de Deus em suas vidas.

  4. Motivação para o Amor e Serviço: O Evangelho não apenas transforma indivíduos, mas também molda comunidades. A compreensão do amor de Deus e da salvação recebida leva os crentes a amar e servir aos outros. O mandamento de Jesus de amar o próximo (Mateus 22:39) é uma resposta natural à graça que receberam. O Evangelho inspira ações de compaixão, justiça e serviço, promovendo uma sociedade mais solidária e amorosa.

  5. Base para a Comunidade de Fé: O Evangelho é o elo que une a Igreja. Independentemente das diferenças culturais, sociais ou econômicas, os cristãos se reúnem em torno da mesma mensagem: a salvação em Cristo. A comunhão entre os crentes fundamenta-se na verdade compartilhada, e celebrações como a Ceia do Senhor servem como expressão visível dessa unidade, onde os crentes se lembram do sacrifício de Jesus e renovam seu compromisso de viver em comunidade.

  6. Desafio e Chamado à Missão: O Evangelho não se limita a ser uma mensagem para ser recebida, mas se configura como um chamado à ação. A Grande Comissão (Mateus 28:19-20) convoca os cristãos a irem e fazerem discípulos de todas as nações. Esta missão é central à identidade cristã, pois o Evangelho é uma boa notícia que deve ser compartilhada com todos. Cada cristão é chamado a viver sua fé de tal maneira que atraia outros a conhecerem o amor de Cristo.

Em suma, o Evangelho é a essência da fé cristã, uma mensagem transformadora que impacta vidas, comunidades e o mundo em geral. Sua definição e importância transcendem palavras; elas se traduzem em uma experiência vivida que é tanto pessoal quanto coletiva. A compreensão do Evangelho é vital para qualquer pessoa que deseje explorar ou aprofundar sua fé em Jesus Cristo, oferecendo não apenas um entendimento intelectual, mas um convite à transformação espiritual e ao compromisso com a missão de Deus no mundo.

Como Lidar com a Frustração no Ministério e na Vida Pastoral

 

A frustração é uma experiência comum em muitas áreas da vida, mas dentro do contexto ministerial e pastoral, ela pode ser particularmente desafiadora. Pastores e líderes ministeriais frequentemente enfrentam expectativas elevadas, tanto de si mesmos quanto dos membros de suas congregações. Além disso, eles carregam a responsabilidade espiritual de guiar o povo de Deus. Com tantas pressões e desafios, é natural que, em algum momento, a frustração se torne parte da jornada. No entanto, é essencial saber lidar com essa emoção de maneira saudável e bíblica para evitar esgotamento e desânimo.

1. Reconheça a Frustração Como Parte do Processo

Uma das maneiras mais saudáveis de lidar com a frustração é reconhecê-la. Não é pecado ou fraqueza sentir-se frustrado no ministério; é uma parte natural de viver em um mundo imperfeito, cercado por pessoas imperfeitas. Até grandes líderes bíblicos, como Moisés e Elias, passaram por momentos de profunda frustração (Números 11:14-15; 1 Reis 19:4). Eles eram fiéis servos de Deus, mas também eram humanos. Admitir que estamos frustrados não é sinal de falha, mas um primeiro passo para encontrar cura e direção.

2. Busque Apoio Espiritual e Emocional

O ministério pode ser solitário, especialmente para pastores que carregam o peso de cuidar das almas de outros. Nesses momentos, é crucial buscar apoio tanto espiritual quanto emocional. Isso pode significar conversar com outros líderes ministeriais ou pastores de confiança, que podem oferecer sabedoria e encorajamento. Além disso, procurar aconselhamento cristão ou mentoria pastoral pode proporcionar uma visão equilibrada e práticas para enfrentar as frustrações. Também é importante manter uma vida de oração ativa, buscando em Deus consolo e força.

3. Reveja Suas Expectativas

Muitas vezes, as frustrações surgem quando nossas expectativas estão desalinhadas com a realidade. O ministério pode ser idealizado como um trabalho glorioso e cheio de recompensas espirituais visíveis, mas a verdade é que muitas vezes envolve sacrifício, trabalho árduo e longos períodos de espera para ver os frutos. É importante ajustar nossas expectativas ao que Deus espera de nós, e não ao que achamos que deveríamos alcançar. Em Colossenses 3:23, somos lembrados de trabalhar "de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens." Quando nossas expectativas estão firmadas em Deus e não em resultados visíveis, a frustração diminui.

4. Pratique a Paciência e Perseverança

A frustração muitas vezes surge porque queremos resultados rápidos em um mundo que valoriza a paciência e o tempo. O apóstolo Paulo nos exorta a não desanimar em fazer o bem, "pois no tempo certo colheremos, se não desanimarmos" (Gálatas 6:9). A paciência é um fruto do Espírito (Gálatas 5:22), e o ministério, como qualquer trabalho de construção, requer tempo e perseverança. Lembre-se de que você está plantando sementes que podem não dar frutos imediatamente, mas no tempo de Deus, os resultados virão.

5. Aprenda a Delegar e Compartilhar as Responsabilidades

Uma das causas da frustração no ministério é o excesso de trabalho e a sensação de carregar todas as responsabilidades sozinho. Jesus nos deu um exemplo claro de como delegar, chamando os 12 discípulos para ajudá-lo em seu ministério. Delegar responsabilidades a outros líderes dentro da igreja pode aliviar a carga e permitir que você se concentre em áreas onde Deus o chamou a servir com mais eficácia. Além disso, isso permite que outros na igreja também desenvolvam seus dons e cresçam no serviço a Deus.

6. Desenvolva uma Vida de Equilíbrio e Descanso

O esgotamento é uma causa comum de frustração no ministério. Mesmo com todas as demandas do trabalho pastoral, é essencial criar tempo para descanso e renovação. Deus deu o exemplo do descanso ao criar o mundo, e Jesus frequentemente se retirava para lugares solitários para orar e descansar (Marcos 6:31). Tirar um tempo para relaxar, estar com a família e cuidar de sua saúde física e emocional é crucial para manter a longevidade no ministério.

7. Lembre-se de Sua Chamada e Confie em Deus

Nos momentos de frustração, é importante relembrar o motivo pelo qual você foi chamado ao ministério. Lembrar-se da sua vocação pode trazer renovação de propósito e visão. Confie que Deus está no controle, mesmo quando as coisas parecem difíceis. Ele prometeu estar com você em cada etapa da jornada ministerial. "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20). Ele é quem guia, provê e capacita para o trabalho.

8. Agradeça a Deus Pelos Pequenos Avanços

Em meio à frustração, é fácil focar no que não está indo bem e esquecer as pequenas vitórias. Tome tempo para refletir e agradecer a Deus pelos avanços que já ocorreram. Cada vida tocada, cada decisão por Cristo, e cada crescimento espiritual na igreja é uma razão para gratidão. O ato de agradecer reorienta o coração para o que Deus está fazendo, em vez de se concentrar apenas nos desafios.

Conclusão

A frustração no ministério e na vida pastoral é inevitável, mas não precisa ser destrutiva. Ao reconhecê-la, buscar apoio, ajustar expectativas e confiar em Deus, você pode crescer através desses desafios e se fortalecer em sua caminhada ministerial. Acima de tudo, lembre-se de que Deus é quem está no controle, e Ele usa até os momentos difíceis para moldar e fortalecer seus servos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Como posso ter fé se eu estava Morto?

A Bíblia descreve claramente a condição da humanidade antes de ser alcançada pela graça de Deus. Em Efésios 2:1-3, Paulo diz: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência.”

Aqui, Paulo fala de uma morte espiritual. Isso significa que, antes de conhecer Cristo, todas as pessoas estão espiritualmente separadas de Deus. Estar "morto" espiritualmente implica em incapacidade total de responder a Deus por conta própria. Assim como um corpo morto não pode realizar nenhuma ação física, uma pessoa espiritualmente morta não pode gerar por si mesma a fé ou a obediência a Deus. Em outras palavras, sem a intervenção de Deus, nós não podemos, por nossos próprios esforços, crer ou buscar a Deus de forma genuína.

O que acontece no processo de salvação é que, antes de sermos capazes de crer, o Espírito Santo nos vivifica, ou seja, nos dá vida espiritual. Em Efésios 2:4-5, Paulo continua: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos.”

Aqui, Deus age em nós mesmo quando estamos mortos. Ele, por Sua misericórdia e graça, nos dá vida, ou seja, nos ressuscita espiritualmente. Esse ato de Deus é o que chamamos de regeneração, e é nesse momento que recebemos a capacidade de crer em Cristo. Antes da regeneração, estamos espiritualmente mortos, mas Deus nos dá uma nova vida através de Sua graça.

Essa ideia da morte espiritual leva à doutrina da incapacidade total, que afirma que, por natureza, os seres humanos não têm a capacidade de escolher ou buscar a Deus por si mesmos. Em Romanos 3:10-12, Paulo descreve essa condição: “Não há justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.”

Essa passagem reforça que, sem a intervenção divina, ninguém tem a capacidade de se aproximar de Deus ou de ter fé. O ser humano, por causa do pecado, está espiritualmente incapacitado.

Quando falamos de "ressurreição" espiritual, estamos falando do novo nascimento (regeneração), que é operado exclusivamente pelo Espírito Santo. Jesus explica isso de forma clara a Nicodemos, em João 3:3-8, ao falar sobre a necessidade de "nascer de novo" para entrar no Reino de Deus. Ele afirma que esse novo nascimento é uma obra do Espírito: “O vento sopra onde quer, você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito.”

Isso significa que a regeneração é um ato soberano de Deus pelo Espírito Santo, e acontece de forma misteriosa. Não somos nós que decidimos “nos regenerar”; é Deus quem nos ressuscita espiritualmente através de Sua graça.

Agora, podemos ver que a fé é o resultado da regeneração. Uma vez que Deus nos ressuscita espiritualmente, somos capacitados a crer. Isso se harmoniza com o que Paulo diz em Filipenses 1:29: “Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele.”

Esse "privilégio" de crer é algo que nos é dado por Deus como parte do Seu dom da salvação. Nós, mortos em nossos pecados, não podemos crer a menos que Deus nos dê vida e, com essa nova vida, venha a capacidade de crer e confiar em Cristo.

A ideia central aqui é que, por estarmos espiritualmente mortos em nossos pecados, precisamos ser "ressuscitados" pela graça de Deus para sermos capazes de crer. Esse processo é chamado de regeneração, e é uma obra soberana do Espírito Santo que nos dá nova vida espiritual. A partir dessa nova vida, recebemos a capacidade de exercer fé em Cristo e, assim, somos salvos.

Ou seja, a fé é o resultado de Deus primeiro nos dar vida espiritual. O Espírito Santo age, ressuscita nosso espírito, e então respondemos crendo em Cristo.

Ordo Salutis (ordem da salvação)

 A Ordo Salutis (ordem da salvação) é uma estrutura teológica que busca explicar o processo completo da salvação, desde a escolha divina até a glorificação final. Ela é discutida em várias tradições cristãs, como o Calvinismo, Arminianismo, e outras vertentes, cada uma oferecendo diferentes ênfases e sequências de eventos. A ideia central é mostrar como Deus atua na vida de uma pessoa, levando-a da perdição à comunhão eterna com Ele. A seguir, apresento uma versão mais detalhada e abrangente da Ordo Salutis, com destaque para as diferenças e profundidade teológica:

1. Eleição (ou Predestinação)

  • Definição: A eleição é o ato soberano de Deus, em que Ele escolhe, desde a eternidade, aqueles que serão salvos. No Calvinismo, a eleição é incondicional, baseada unicamente na vontade de Deus, sem depender de qualquer ação humana ou méritos prévios (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30). No Arminianismo, ela é condicional, baseada na presciência divina, onde Deus antevê quem responderá ao chamado com fé.
  • Implicação: Esta escolha não se baseia no mérito humano, mas na graça soberana de Deus.

2. Chamado Eficaz (ou Vocação Interna)

  • Definição: É o chamado interior do Espírito Santo, que vai além da mera pregação externa do evangelho. É através desse chamado que Deus efetivamente atrai a pessoa para Si, convencendo-a da verdade do evangelho. No Calvinismo, este chamado é irresistível, no sentido de que quem é chamado de forma eficaz acabará crendo. Já no Arminianismo, o chamado pode ser resistido.
  • Versículos: João 6:44; Romanos 8:30.

3. Regeneração (Novo Nascimento)

  • Definição: A regeneração é a obra sobrenatural do Espírito Santo que transforma o coração do pecador, tornando-o espiritualmente vivo e capaz de responder à fé. No Calvinismo, ela precede a fé, enquanto no Arminianismo, a fé precede a regeneração, pois a pessoa escolhe crer e, em resposta, é regenerada.
  • Versículos: João 3:3-8; Tito 3:5.
  • Implicação: O indivíduo, que estava espiritualmente morto, agora é vivificado para crer no evangelho.

4. Conversão (Arrependimento e Fé)

  • Definição: Conversão envolve duas respostas humanas: o arrependimento, que é uma mudança de mente e atitude em relação ao pecado, e a , que é confiar em Cristo para salvação. Na visão Calvinista, a regeneração permite essa resposta; já no Arminianismo, a graça preveniente habilita o ser humano a escolher crer.
  • Versículos: Atos 3:19; Efésios 2:8-9.
  • Implicação: Esta resposta é a evidência visível da obra regeneradora de Deus no coração.

5. Justificação

  • Definição: Justificação é o ato jurídico de Deus, em que Ele declara o pecador justo com base na obra redentora de Jesus Cristo. A justiça de Cristo é imputada ao crente, e todos os seus pecados são perdoados. No Calvinismo e no Arminianismo, a justificação é inteiramente pela fé, mas há divergências sobre o papel das obras subsequentes como evidência dessa justificação (Tiago 2:17).
  • Versículos: Romanos 3:24-26; 2 Coríntios 5:21.
  • Implicação: O crente é declarado justo diante de Deus e tem paz com Ele, sendo agora reconciliado.

6. Adoção

  • Definição: Adoção é o ato de Deus pelo qual o crente se torna membro da família de Deus, recebendo o status de filho ou filha. Isso não é apenas um novo status legal, mas também uma nova relação de intimidade e herança (Romanos 8:15-17).
  • Versículos: Gálatas 4:5-7; João 1:12.
  • Implicação: O crente recebe todos os direitos e privilégios de ser um filho de Deus, incluindo a herança eterna com Cristo.

7. Santificação

  • Definição: Santificação é o processo contínuo pelo qual o Espírito Santo transforma o crente, moldando-o à imagem de Cristo. Esta é uma obra progressiva, que dura por toda a vida do crente, e envolve a cooperação do crente através de atos de obediência. No Calvinismo, a santificação é a evidência da regeneração e da eleição. No Arminianismo, há maior ênfase na possibilidade de "cair da graça" se o crente não perseverar.
  • Versículos: 2 Coríntios 3:18; Hebreus 12:14.
  • Implicação: O crente é chamado a viver uma vida de santidade, evidenciando a obra transformadora de Deus.

8. Perseverança dos Santos

  • Definição: Refere-se à garantia de que aqueles que foram verdadeiramente regenerados e justificados permanecerão na fé até o fim. No Calvinismo, isso é visto como uma doutrina da "segurança eterna", onde os eleitos não podem perder a salvação. No Arminianismo, porém, os crentes podem, em alguns casos, apostatar e perder a salvação.
  • Versículos: João 10:28-29; Filipenses 1:6.
  • Implicação: A perseverança é uma evidência de que Deus completará a obra que começou nos eleitos.

9. Glorificação

  • Definição: A glorificação é o estado final da salvação, em que o crente é ressuscitado em corpo glorificado e totalmente livre do pecado, da corrupção e da morte. Isso ocorrerá na segunda vinda de Cristo, quando todos os salvos serão transformados à imagem do corpo ressurreto de Cristo (1 Coríntios 15:42-44; Romanos 8:30).
  • Implicação: A glorificação é o ponto culminante da redenção, onde os crentes viverão eternamente na presença de Deus.

Variações Teológicas

Enquanto a estrutura acima é baseada principalmente em perspectivas reformadas (Calvinistas) e arminianas, outras tradições cristãs, como a Igreja Ortodoxa e o Catolicismo, têm abordagens diferentes. O Catolicismo inclui processos como a cooperação com a graça, sacramentos, e a ideia de que a justificação e a santificação estão mais integradas, sem a separação tão clara entre fé e obras.

A Igreja Ortodoxa, por sua vez, foca na teose ou "divinização", que vê a salvação não apenas como um processo legal ou moral, mas como uma união mística com Deus. A ênfase aqui está mais no crescimento contínuo em santidade e comunhão com Deus ao longo da vida e na eternidade.

Conclusão

A Ordo Salutis é uma tentativa teológica de descrever o processo pelo qual Deus leva um pecador à salvação e à glória eterna. Embora haja variações significativas entre as diferentes tradições cristãs, todas compartilham a crença de que a salvação é obra de Deus, realizada por meio de Cristo e aplicada pelo Espírito Santo, resultando na restauração do ser humano à comunhão com Deus.

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